Antes tarde do que nunca
Jorge enfim
colocou a vida em ordem. Usou o ano para botar a saúde em dia, as finanças em
dia, o trabalho e os estudos. Colocar a cabeça em dia, a alma.
Há muito
deixava a vida levar de qualquer jeito, levando suas alegrias e sonhos pelo
ralo. Mas nesse ano foi diferente. Largou tudo e mudou de casa, uma casa mais
simples, menos móveis, menos coisas. Escolheu ter mais histórias e mais gente
de verdade. Deletou as redes sociais, vendeu o smartphone caro, o tablet, os
notebooks, a câmera fotográfica que não usava senão para ostentar. Deu os
quadros, os livros, alguns objetos. Ficou o essencial, mesmo que de improviso.
E ficou bom!
Todo
movimento que fez deu surpreendentemente certo. Fez o balanço do ano e, apesar
de não ser perfeito (nenhum é), sentiu-se feliz, com domínio sobre a realidade
e sobre si. Sonhou então fazer um novo ano ainda melhor, para ele mesmo e para
os outros. Sabia a fórmula, bastava aplicar com coragem. E de alegria, escorreu
uma lágrima…
Percebeu que
aquele foi o primeiro natal verdadeiro em anos. Família reunida e em paz na
ceia. Ceia feita por eles e não comprada pronta, como sempre fez. As coisas que
deu aos amigos e parentes, até mesmo as que vendeu, serviram meio que de
presente de Natal, só que bem mais útil a quem recebeu que um presente comprado
em loja, só para marcar a data. A decoração, simples e improvisada, tinha
significado para além dos efeitos elaborados e pirotecnia.
Jorge viu
verdade naquelas pessoas, naquelas coisas, nos momentos.
Antes tarde,
Jorge em fevereiro já era outro.
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