O que é Dignidade?

 

Supondo que a dignidade humana seja o fato de que cada um, dentro da lei, tenha possibilidade de realizar qualquer coisa, seja material ou imaterial, que lhe traga felicidade e com qualidade, ou seja, nada de ter coisas ou momentos meia boca na vida. E observando dentro do paradigma neoliberal moderninho de estado mínimo, vamos fazer umas contas para uma família de quatro pessoas da base mais pobre da sociedade, um casal e dois filhos em 2022, numa capital do Brasil:

– Escola privada para dois filhos: R$ 2000,00
– Saúde privada para a família: R$ 3000,00
– Seguros dos dois carros e da casa/mês: R$ 450,00
– Manutenção e combustível dos carros: R$ 1250,00
– Prestação dos carros: R$ 2000,00
– Prestação da casa: R$ 1300,00
– Eventuais estudos dos pais, reciclagem, ascensão profissional: R$ 1000,00
– Alimentação e manutenção da casa: R$ 1500,00
– Contas de luz, água, gás, internet, telefones etc.: R$ 1000,00
– Previdência privada/seguro de vida para o casal: R$ 1000,00
– Lazer, viagens, cultura e entretenimento: R$ 2500,00
TOTAL: 17000,00

Levando em conta que o casal trabalhe e dívida essa renda, cada um teria que ganhar cerca de R$ 8500,00 para fornecer uma vida digna e segura a família, de forma a, dentro da lei, poder realizar qualquer coisa no estado mínimo que lhe garanta felicidade. E mesmo assim, veja, não sobra pra fazer poupança para imprevistos ou sonhos futuros.

Argumentos: “ahh mas a concorrência a baixaria os preços”, ok, com 40 por cento de redução, cairíamos para uma renda obrigatória de cerca de R$ 5000,00 para cada adulto da família. “Ahh mas o estado mínimo não teria tanto imposto”, diminuindo a carga individual atualmente estimada de 40 por cento de imposto para 10 por cento, a renda ainda cairia para quase R$ 3500,00. O salário mínimo teria mais que triplicar para dar conta. Que empresário faria essa proeza diante de uma concorrência acirrada que obriga a baixar seu preço? Contraditório, não?

Entenda meu raciocínio: Tudo isso são direitos básicos garantidos pela constituição, ou seja, qualquer família teria direito a isso, caso o estado prover ou ele mesmo com seus recursos. Em miúdos, dentro desse cenário hipotético, do alto executivo ao lavrador possuiriam os mesmos direitos mínimos de dignidade. Portanto, como esse tal de estado mínimo neoliberal se sustentaria e de que forma ele seria implantado se boa parte da população nem tem como bancar a sobrevivência mínima, que dirá alcançar a almejada DIGNIDADE MÍNIMA.

Vivemos tanto tempo tentando cortar gastos na carne que achamos normal e até bonito esse modo de viver. Mas isso é viver abaixo da linha da dignidade. O mínimo que merecemos é o que está na lista acima, seja fornecido do estado (com nosso dinheiro de impostos) ou do bolso. O que importa é: como chegaremos lá? Pelo mérito pessoal sabemos, pois vemos todos os dias, que muita gente boa se esforça e luta a vida inteira para morrer de fome, sendo sustentado pela família. Um outubro de eleição vai mesmo mudar esse quadro meio que por mágica? Ainda mais com tantos lunáticos, oportunistas e pistoleiros no pleito? Me parece um sonho de criança.

Lembrando que o salário-mínimo, quando respeitado, fornece menos de R$1000,00 brutos ao trabalhador, bem distante do que daria a ele dignidade. Se não fosse minimamente a escola, a saúde e a segurança públicas, a solidariedade da família e amigos e toda privação diária a dar um alento, que seria do país? A barbárie! Perguntas que ficam: quem pensa o estado mínimo, sabe a distância que ele tem da realidade atual do país? Estão colocando essa conta da dignidade plena e para todos em seus planos? Duvido. É discurso vazio de quem ganha muito com esse modo de pensar o Brasil, replicado por quem acha que mágica funciona.

Para mim, antes de um tal estado mínimo, há de se implantar uma dignidade mínima viável entre todos os patrícios, de modo a cada um ser facultativo viver do modo que lhe aprouver. Primeiro a começar pela educação pela total e cívica a todos, crianças, jovens e adultos. Depois fornecendo saúde preventiva que mantenha esse povo de pé, terceiro com uma economia baseada no desenvolvimento científico, empresarial e humano que faça com que a cultura empresarial vira-lata, oportunista, especulativa e pessimista do país mude para algo mais patriótico, empreendedor e honesto, de modo que o empresário saiba que pagando bem, encontrara um mercado de 210 milhões de pessoas que, bem remuneradas, serão negócio garantido, fora exportações.

A única instituição que tem poder para essa solução demorada é ainda o estado, que deve ser reformado constantemente e vigiado pelo povo, evitando abusos, desperdícios, corrupção etc., mantendo foco no que é necessário para a dignidade mínima do povo e pronto. Ou seja, um trabalho constante de cidadania de todos nós para que tudo funcione bem. Qualquer uma das outras instituições nacionais são bem pequenas para alcançar isso. Emancipar um povo, dar a ele soberania, necessita de um estado grande, governado por gente grande e supervisionado por um grande povo, que pensa coletivamente, e não no seu umbigo e na lacrada que daria se tivesse uma 380 na mão, enquanto o estado, em frangalhos, não conteria a barbárie instaurada.

Há outra solução, mais revolucionária e que inclusive já foi tentada com sucesso em alguns pontos da terra. Por essa aguardo e trabalho com mais carinho, sabendo que não será para minha geração, mas para as próximas. Mas, infelizmente, essa polêmica pode ficar para conversas particulares...

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