MOSAICO – 3º EPISÓDIO – O último bar de muitos que virão
Continuação dessa história no site das Belas Urbanas
Era um dia
desses que a gente não tem o que fazer. Fui eu, mais dois amigos ao bar.
Falávamos daquelas coisas do universo que nos rodeia: Corinthians, Hamilton,
MMA, Bolsonaros e outros assuntos irrelevantes de fato. Cerveja vinha, cerveja
ia e gente começava a ter tédio. Muito tédio.
Lascamos a
falar mal de mulheres que tínhamos tido. Várias, citando o nome ou não, eram
motivos de risada. Seja pelas manias, pelas fixações, pelo atrevimento e
ousadia. Qualquer valor era motivo de crítica apenas pelo riso. Ao final,
estávamos a contar piadas das mais preconceituosas que se possa imaginar…
Um de nós,
não lembro qual (mas não fui eu, claro), fez o desafio: Duvido que alguém dessa
mesa saia daqui com uma mulher. Trato feito! Rodamos o bar a procura de alguma
desavisada que caísse no nosso lero. Foda-se o nome, era por honra! Não queria
ser motivo de piada no próximo Happy Hour.
Eis que a vi.
Uma mulher sozinha, impaciente, meio que aguardando algo. Me pareceu habitue
daquele bar, ou das noites solitárias, algo que me identifico, não sei como.
Sentei ao lado, puxei papo sobre o Jalapão (ou Japão, nem me lembro) ou
qualquer outro local que nunca pisei, mas que, por curiosidade, havia lido na
Wikipedia. E que sorte, ela sabia algo sobre esse local. Ou que azar, não sei.
Só sei que o papo rolou.
Mas a coisa
foi andando para um lugar estranho. Ela foi ficando distante e eu sem bala na agulha
(ou na língua). O clima foi esfriando à medida que percebia o vazio que ambos
tinham e a aflição em preenchê-lo era grande, crescia. Por algum motivo, me
identificava com ela, e me atraía por seu olhar vago, à espera de algo. E
não me refiro aos amigos que deram cano no bar, mas algo da vida que lhe
faltava.
Senti uma
vontade de partilhar meus medos e angústias, meus sonhos também, algo que não
faço há muito tempo. “Mas basta! Que pensamento fraco, homem! Solta uma cantada
e agarra essa mulher! Você está aí para provar o poder de seu falo aos colegas,
não?”. Essa era a voz que me trazia ao chão. Ou à lona, não sei.
De fato, em
algum momento inesperado ela me beijou. Me beijou como se estivesse à procura
de algo dentro de mim. Parece papo de maluco, mas senti que ela estava em busca
de alguma coisa que não iria encontrar em mim. E eu fiquei intrigado com isso,
ainda mais que ela se levantou e se foi logo em seguida. Me pareceu que já
fizera isso antes, dessa mesma forma. Como se estivesse minerando em busca de
uma pedra preciosa que perdera…
Logo parei
para terminar meu copo, e nisso, pensei em mim. O que eu estava fazendo ali,
meu Deus? Tentei usar alguém para provar algo para outro alguém. Mas eu mesmo
ali não estava… Aliás, quem eu era nessa cena, nesse teatro de farsa? Um saco
de batatas, vazio e sujo talvez.
Voltei à mesa
com sorriso amarelo. Tinha provado a eles meu potencial, mas por dentro
continuava a pensar o quão ridículas aquelas noites estavam se tornando com
eles. Precisava mudar meu rumo, mas que rumo tomar, sem que achem que sou
frouxo, porra?
Cheguei em
casa quase de manhã, pois fiquei rodando a cidade até o sol aparecer. Pensei em
todas as mulheres que passaram na minha vida. Casamentos, namoros, noivados,
noitadas. O que eu tinha plantado nessa vida além de sêmen? Realmente, acho que
não vou colher porra nenhuma desse jeito.
Abri meu
guarda-roupas, separei alguns objetos que guardava e não usava mais. Coisas que
provavam o que eu não era. Separei roupas que não mais cabiam, perfumes da moda
e remédios azuis. Botei num saco preto e joguei no lixo. Não sei o que me deu,
mas aquele dia, depois daquele beijo vazio, me deu uma vontade de mudar algo
que ainda não sei o quê. Preciso começar…
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