Milagre de Natal

Natal de 2008: 
Acordei naquela tarde de sábado, depois de um cochilo, com uma idéia na cabeça. Como a vida se tornou complicada de uns milhões de anos para cá pra esse bicho ser humano que somos, não? Olhando ao redor, vejo que temos móveis de alta tecnologia, eletrodomésticos super “MODERNOS”, computadores potentes e onipotentes a nos guiar e centralizar tudo que nossa mente não é capaz de lançar a mão com tanta rapidez. Uma vez que ela consegue gravar bem mais. 

 TVs digitais de plasma ou LCD me assustam um pouco. Pra que gastar R$ 2 mil em um aparelho pra ver a mesma coisa que o antigo, que não vale hoje nem R$ 50 também podem mostrar? Só pela “qualidade” da imagem? Belo argumento... Carros extremamente modernos, rápidos e equipados para nos levar ao mesmo ponto onde o antigo nos levaria. Diferença? Em conforto talvez. Algo dispensável. E os seguros para estes carros? Uma indústria do medo. Você paga 10% do valor do bem por um serviço que não deseja usar. Bom, depois de felizes 10 anos sem usar o seguro, um novo carro lhe é devido pela companhia e ninguém lhe dá. E ai? Nesta situação sorrimos como hienas e contratamos o 11º ano. 

 Planos de saúde, nem se fala. Pagamos imposto para que o governo nos provenha saúde. Ele não provém. Pagamos um plano, pagando ainda o mesmo imposto, e na espera de ter saúde, desejamos não ter doença. Óbvio. Portanto, pagamos duas vezes para não usarmos o serviço! Isso quando o plano de saúde não te mede a pressão e te da uma aspirina, tentando economizar o dinheiro de uma internação por conta de câncer... Em suma, pagamos para sermos enganados e morrermos na santa ignorância, eterna mãe da felicidade. Sim, senhores: paradoxo de louvar a ignorância. Pois tudo o que nós, bicho ser humano, sabemos e criamos é para complicar nossa vida. 

De fato, em milhões de anos necessitamos das mesmas coisas: 5 porções de carboidratos, 3 de proteína, 2 litros de água, alguns sais minerais e óleos. O resto de nosso empenho deveria ser dedicado apenas a gastar todo esse combustível. Mas o bicho ser humano veio com dois defeitos de fábrica. Ele é curioso e sente tédio. Se não fosse curioso, não descobriria novas coisas e daria o nome a elas de “tecnologias”. Afinal, uma tecnologia nova é apenas uma gambiarra com um pouco mais de cálculo que a anterior e alguma nova funcionalidade, justamente para tirar o nosso tédio da tecnologia anterior. Por que me empolguei com essa complexa idéia? 

Ah sim. Naquela manhã, a pastoral da crisma esteve na paróquia para a montagem do nosso primeiro Presépio de Natal. Não tínhamos idéia do que criar. Dispúnhamos de diversas tecnologias a preços acessíveis nas lojas próximas, podendo criar soluções mirabolantes e pirotécnicas. Ao invés disso, optamos pela simplicidade de dispor de materiais simples, guardados lá mesmo na paróquia e esquecidos para a confecção da decoração. Chegamos às 9h e saímos às 14h, mas ninguém olhou o relógio. Nem teve a fome corriqueira do meio dia. Tão pouco ninguém reclamou da falta de materiais. Contamos apenas com nossa criatividade e criamos um presépio bem simples, mas com a sinceridade de nossas vontades e a simplicidade dos materiais ali esquecidos. 

Críticas? Elas sempre vem... Sem nenhuma tecnologia adicional vinda da china, sem nenhum efeito especial de Hollywood. O que está lá? Apenas nossa vontade e nossos sorrisos de um sábado de manhã, que para todos, será inesquecível. Não sentimos tédio nem curiosidade. Consertamos nosso defeito de fábrica. Igualamos-nos aos mais simples, e fomos superiores para nós mesmos. Fomos por um instante, completamente felizes juntos, pois sorrimos.

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